O setor financeiro está passando por uma transformação significativa, impulsionada pelo avanço da tecnologia, a crescente demanda por serviços cada vez mais personalizados e a necessidade de melhorar a eficiência e a segurança. No Brasil, duas novidades anunciadas pelo Banco Central do Brasil (BCB) tomaram conta do mercado financeiro no último semestre de 2023: a criação de uma nova moeda digital e o desenvolvimento de um APP ÚNICO.
Apesar de as criptomoedas ganharem cada vez mais popularidade ao redor do mundo, ainda são um tema controverso. Há uma vertente de especialistas que defende que as criptomoedas podem revolucionar o setor financeiro, mas também há aqueles que acreditam que elas são uma bolha que pode estourar a qualquer momento.
O DREX, nova moeda digital, já está em fase piloto pelo BCB e deve ser testada junto à população até o final de 2024. Assim como as criptomoedas, o DREX também é baseado na tecnologia blockchain, mas, ao contrário das criptomoedas que possuem gestão descentralizada, terá um controle total do governo, pois será emitida única e exclusivamente pelo Banco Central. Com o mesmo valor que o Real físico, a moeda digital poderá ser usada para realizar pagamentos, transferências e investimentos.
Agora, na corrida contra o tempo, os bancos, fintechs e consultorias de tecnologias que apoiam as instituições financeiras, estão se organizando e evoluindo cada vez mais no modelo ágil de trabalho, para desenvolver e aplicar essas tendências de forma segura, com uma arquitetura robusta e escalável, eficaz e acessível a todos. Segundo o Banco Central, para que os testes junto à população aconteçam será necessário primeiro conquistar o “grau de maturidade adequado” com o projeto e os participantes do mercado. Mas será que a população está preparada para isso? Falado nos principais jornais do país desde o seu anúncio oficial em agosto do ano passado, o Drex ainda é incrivelmente desconhecido pela maioria da população brasileira. Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Datafolha e a TecBan perguntou para as pessoas o que se tratava esse tal de DREX e mais de 80% responderam não saber o que era. É impressionante saber que menos de 20% dos brasileiros conectados à internet têm conhecimento sobre o DREX.
Para muito além das tecnologias e ferramentas de prevenção a fraudes e crimes cibernéticos, os problemas de segurança no Brasil estão, em grande parte, ligados à desinformação. Com o PIX, por exemplo, só em 2022 foram contabilizados mais de 1,7 milhão de golpes financeiros, sendo a maioria delas resultantes da desinformação e não de ferramentas de segurança. Ao anunciar que o DREX só passará a ser testado junto à população após atingir a maturidade das empresas e especialistas envolvidos, o BC deixa uma grande questão no ar: como a população será educada e orientada para isso?
Claro que não se pode negar a importância do avanço que será o Drex complementando o já existente PIX para potencializar a inclusão financeira. É inegável que o PIX até agora atendeu muito bem não somente das pessoas físicas, como também favoreceu o varejo e o comércio. No entanto, o mercado de capitais, as transações de alto valor e as transações entre empresas ainda são carentes de soluções que proporcionem segurança, eficiência e escalabilidade. E o DREX surge como resposta a essa demanda.
De um modo geral, os especialistas e analistas do mercado são positivos em relação ao DREX. Eles acreditam que a moeda digital pode trazer uma série de benefícios para o mercado financeiro brasileiro, incluindo maior eficiência nos pagamentos, maior segurança das transações e maior inclusão financeira. No entanto, alguns especialistas também apontam alguns riscos associados ao DREX, como: riscos de manipulação do valor da moeda com a tecnologia blockchain e riscos de ciberataques. Uma regulamentação seria uma resposta eficiente?
Em evento do jornal Valor Econômico, o “Especial: Real Digital”, João André Pereira, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro, destacou a necessidade de avaliar o arcabouço legal e regulatório para a plataforma. Ele defendeu ser preciso entender questões como a aceitação da moeda nos lugares, por exemplo. Para ele, a própria Lei 4595 do sistema financeiro precisa ser revista e analisada para questões mais básicas até pelo formato que a moeda digital foi pensada. Outros pontos seriam avançar em aspectos legais para permitir a desmaterialização do valor mobiliário e o desafio de inovar em uma instituição de 214 anos.