Futuro do trabalho: como a tecnologia, a digitalização, a automação e os métodos ágeis estão remodelando o mercado

Por Alexandre Abdala

O mundo do trabalho está passando por uma transformação sem precedentes, impulsionada pela tecnologia, digitalização, automação e métodos ágeis. Essas forças estão remodelando o mercado de maneiras profundas e rápidas, redefinindo não apenas o nosso trabalho, mas também a forma como exercemos as nossas ocupações. De acordo com o relatório “O futuro do mercado de trabalho: impactos em empregos, habilidades e salários”, do McKinsey Global Institute, até 30% das horas trabalhadas em todo o mundo poderão ser automatizadas até 2030, dependendo da velocidade em que ocorrer a transformação digital.

Esse estudo traz uma perspectiva ampla e bem completa sobre as mudanças que podem ocorrer no futuro, pois analisa o cenário do trabalho em diversos países do mundo, embora não inclua o Brasil. Ele diz que, por mais que possa haver trabalho suficiente para manter todos os empregos até 2030, as transições entre as ocupações serão bastante desafiadoras. Isso porque, em todo o mundo, entre 400 e 800 milhões de indivíduos poderão perder seus empregos atuais devido à automação. Por outro lado, o estudo destaca que, mesmo quando algumas tarefas são automatizadas, o número de postos de trabalho pode não diminuir, pois os trabalhadores podem começar a realizar novas tarefas.

Em países como Japão, Estados Unidos e Alemanha poderá haver um deslocamento significativo devido à automação, mas novos empregos criados pela inovação tecnológica poderiam equilibrar o mercado de trabalho. A Índia, por outro lado, devido ao rápido desenvolvimento e baixa automação, pode passar por um aumento nas categorias ocupacionais. A análise sugere que a reintegração rápida de trabalhadores deslocados é crucial para evitar desemprego e que a automação, embora desloque algumas posições, pode também aumentar a produtividade e o crescimento do PIB a curto prazo​​. De acordo também com o relatório do McKinsey, entre 8% e 9% da demanda por mão de obra em 2030 envolverá novos tipos de ocupações que não existiam antes.

Para percorrerem este cenário, tenho percebido, pelo menos aqui no Brasil, uma busca e demanda das empresas por profissionais generalistas e adaptativos, ou seja, capazes de aproveitar ao máximo as novidades do mundo do trabalho. Ao longo do tempo, creio que aqueles que saibam trabalhar com os métodos ágeis irão se destacar, pois elas oferecem um modelo flexível e adaptável para lidar com a rápida evolução dos negócios e das tecnologias. Ao mesmo tempo, existem para promover a colaboração, a comunicação eficaz e a entrega aprimorada de resultados, permitindo que as equipes se ajustem rapidamente às mudanças nas demandas do mercado, e incentivam a experimentação e a aprendizagem contínua, aspectos essenciais quando a inovação e a capacidade de se adaptar rapidamente são valorizadas.

A inteligência artificial é outra tendência que no futuro estará presente em diversas frentes do negócio. Inclusive, foi muito debatida durante o SXSW na Austrália, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo. De maneira geral, as empresas estão buscando pessoas que estejam preparadas para olhar o futuro. Segundo relatório do FMI, em locais como Estados Unidos e Reino Unido, entre 60% e 70% dos empregos atuais estão altamente expostos à inteligência artificial. No Brasil, este número chega a 41%.

Esses números mostram que o ritmo de aplicação da IA vem crescendo cada vez mais rápido, então é preciso saber como usá-la e aproveitar os benefícios dela no dia a dia, dentro de um contexto. De fato, todos os produtos e serviços a partir de agora passarão pela inteligência artificial, esteja ela embutida no plano de negócio, no plano de execução ou no artefato final. Aqui, cito também a robótica, tecnologia que estará cada vez mais presente para melhorar a eficiência das operações.

Creio que a forma como fazemos recrutamento também está se transformando com a inteligência artificial. Ela pode facilitar muito uma contratação, pois é capaz de cruzar dados estratégicos e trazer os melhores profissionais para a área de RH pensando no perfil que a empresa necessita para uma vaga, principalmente nas etapas iniciais de um processo seletivo. Então, depois, a conversa humana e pessoal acaba ficando mais direcionada, para se fechar uma contratação. Ao mesmo tempo, também é necessário pensar em como vamos educar a IA para trabalhar em prol da sociedade e do que precisamos.

Esse também foi um tema bastante discutido no SXSW, com foco na diversidade, assim como saúde mental, liderança facilitadora e felicidade como performance. É preciso pensar em governança para que os benefícios da IA sejam acessíveis a todos. Ao mesmo tempo, acredito ser necessário prever e estudar como vamos preparar as pessoas para passarem por um cenário que aponta para essas tendências. No meu ponto de vista, tudo está baseado em 3 Ps: pessoas, processos e produtos.

Isso porque o que se trabalha hoje com tecnologia está afetando a forma como vamos desenvolver produtos e serviços e, obviamente, as pessoas, usuárias finais, além de como chegaremos e como vamos estar no futuro. Junto com isso, como as pessoas vão se comportar, se estruturar e se adaptar aos novos modelos de trabalho. Creio que será necessário sair da zona de conforto e lidar com situações antes nunca apresentadas. Para passar por essa fase, não é necessário ser expert em tudo, mas sim prestar atenção, estudar e focar naquilo que pode agregar valor pessoal e profissional num mercado de trabalho em constante transformação.

*Alexandre Abdala é fundador da PPM Education, empresa que fornece soluções de transformação digital e educacionais de alta qualidade para empresas e instituições de ensino em todo o mundo.

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